quinta-feira, 7 de maio de 2009

Tribunal do Júri, 06 de Maio de 2009

Felizes as palavras de Carnelutti ao descrever um processo penal; ontem, presenciei um de perto, até o fim. Não sei se o cansaço advém dos atos intermináveis naquele plenário, ou dos fatos repetidos inúmeras vezes, sob óticas tão diversas.
Até que ponto se alcança uma verdade? Se eu mesma acredito que nem a minha verdade sou capaz de atingir, dirá outro alguém conseguir atingi-la. No entanto, deparei-me com essa incessante busca, desde o momento em que ali me dispus. 
Não era eu a ré. Mas quem garante até quando?

Resumidamente o litígio residia em um homício doloso, ou seja, em uma morte produto da intenção de matar. O local, uma lanhouse, ou uma residência, como frisava a parte da vítima: ambiente fechado onde apenas duas pessoas sabem o que aconteceu. Uma se encontrava lá, sendo julgada; a outra, já passou pelo julgamento divino, ou está passando. Mas creio eu que apenas a justiça terrena consiga protelar tanto o futuro de seus acusados. Isso se deu a dois anos.

Eu, que não me recordo bem o que almoçei na segunda-feira, imagine então se me recordaria do que comi há dois anos exatos: 7 de maio de 2008. O máximo que me lembro dessa data é que se parabeniza uma grande amiga, o que só não caiu no esquecimento pela sua feliz repetição todos os anos - repetição esta que espero conviver durante longa data.

Pois bem: testemunhas, acusado, ministério público. Para este, confesso, não é o primeiro nem o ultimo fato a ser vivenciado procrastinadamente em busca de uma solução. Já para o réu, era o único, ao menos no que tange a um homicídio - não entrarei no fato de processos paralelos.

Quatro testemunhas foram ouvidas;  para mim, quatro fatos aconteceram. Embora todos essencialmente caissem no mesmo litígio, a emoção, a descrição, os detalhes, a ênfase, tudo se modificara. Diante deles, deparei-me em profundas dúvidas. Nada ficou claro, no fim das contas.

Um homem morreu, deixando um herdeiro e uma viúva, juntamente com familiares indignados querendo uma justiça que se refletia na maxima pena que o acusado pudesse receber. Mas quem era o homem? Como ele vivia? O que fizera para atingir seu desafeto? Por que havia um desafeto?

Parei por aqui. As reflexões são muitas cuja conclusão não excede um único ponto: nunca serei apta a dizer o que é justiça, ou quem está diante dela. É o que deixo nas mãos de Deus.
Nas minhas, porém, cabe o mister de montar alguns detalhes do quebra cabeça; a interpretação deles, contudo, será da sorte de quem por este desafio ouse passar.

Eu me recuso.

Terá continuidade, cansei de pensar nisso por hoje.

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