quarta-feira, 15 de julho de 2009

A magia do Natal, Por B. Barretto Accioly

Lapônia, 5 de janeiro de 1995


Minha querida netinha,
Desejo participar-lhe que acabo de regressar a minha terra, depois de um cansativo trabalho de distribuição de presentes com as crianças do mundo inteiro.
Espero voltar no próximo ano. Não sei se levarei alguma lembrancinha para você, uma vez que não acreditas na minha existência, conforme fui informado.
Se é assim, procurarei outras crianças que em mim acreditem.
Aqui está fazendo muito frio. A temperatura está abaixo dos 30 graus negativos. O gelo é tanto que já não posso abrir a porta da minha casa.
Até minha máquina de escrever esta congelada, o que me impossibilita de datilografar.
São dez horas da noite. A neve continua caindo lá fora, e como estou com muito frio, vou concluir.
Com o abraço do seu velho,
Noel
(in memorian - 04.05.2001) Querido vovô Benedito,

O natal de 1994 foi o último que eu recebi notícias do velho Noel. Naquela época, o senhor teve seus planos frustrados: a magia de fato adormecera. Mas hoje, 14 anos depois revivendo minhas lembranças, vejo que nenhum outro encanto tem mais força do que o AMOR.
Meus filhos acreditarão em Papai Noel, e farei de tudo para ser durante o máximo período de tempo. Muito Obrigada pelos exemplos, pelas lembranças, e pelas saudades.
O mundo está esquecendo de se encantar... Mas eu, continuo sonhando mais alto que nunca.

Maceió, 15 de julho de 2009
Juliana Accioly

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Bilhetes de sala

- Por que você me trata tão mal assim? É pra ver se mesmo dessa forma eu continuo sentindo a mesma coisa por você? É algum tipo de teste?
- Mas repara bem a minha cara de quem faz testes... É que eu estou chata esses dias mesmo, me desculpa?
- Você nasceu perdoada... mas ontem eu notei uma coisa. Fui apagar as mensagens comprometedoras e percebi que elas só existiam na caixa de saída...
- Como eu vou mandar mensagens se eu cheguei no meu limite? Era essa a condição: você cansava de esperar, e eu perdia as chaves.

domingo, 7 de junho de 2009

About me

sem bordas, por favor: sou claustrofóbica.

"... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... " [Fiodor Dostoievski]

"Só me sinto digna das minhas asas se as utilizar para fazer os outros voarem." [A. Cury]

"Após tudo, basta que um santo se glorifique de ser santo para perder sua santidade." [Francesco Carnelutti

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Aqui, ali, ou do outro lado do mundo.

Ele disse que tudo isso seria bom pra eu ver se valeria a pena.. Mas é simples: "é só dar um passo adiante e olhar pra trás para perceber o que realmente importa".
Respondi que, para mim, só haveria duas formas de ser diferente: ou se eu tivesse desenhado uma imagem que nunca existiu, ou se deixássemos de caminhar juntos. Nunca fui o tipo de pessoa que realça as dificuldades a ponto de mudar de rumo, pelo contrário: são elas que fazem eu permanecer exatamente onde estou, ate que sejam superadas e surjam outras mais difíceis.

O valer a pena é resultado daquilo que construimos: ocupe o seu espaço... o resto é consequência.
É, eu não faria diferente.

Annie Jolie

segunda-feira, 25 de maio de 2009

As frases soltas

Não há um método: o resultado é obtido mediante uma inspiração inexplicada, quando você menos espera. Na maioria das vezes, isso me acontecera antes de dormir, e eu sempre lamentei o fato de, ao acordar, não lembrar sequer  o início do pensamento. Foi ai que tive a brilhante ideia: guardar em pequenos registros todos os pensamentos que me viessem a cabeça, seja qual fosse  horário, a fim de, num futuro próximo, torná-los em algo produtivo.
Frustrei-me ao perceber que, alguns deles, não teriam continuidade. Eram perfeitos em si mesmos, não admitindo nenhuma vírgula além. E agora? 
Por muito pouco, completado pela minha inquietude, quase apaguei tais arquivos que considerava incompletos. Até que ele chegou: Rubem Alves caiu nas minhas mãos e, enfim, derrubou minhas fichas. Ao relatar a mesma situação que ocorrera com ele e publicar um livro cujo conteúdo era justamente composto desses "pedaçinhos de vidros coloridos", decifrou em segundos o que sempre esteve em baixo do meu nariz: a completude não vem apenas de grandes pensamentos ou elaborações literárias complexas, mas, antes de tudo, das pequenas cenas cujo retrato guardam uma infinita beleza que infindaveis livros não alcançam.

As virgulas são essenciais, mas não ofuscam a completude de um belo ponto final.
"Não atire pérolas aos porcos..."


segunda-feira, 11 de maio de 2009

"... Mas ninguém sabe realmente o que as outras pessoas podem estar escondendo internamente, não se permitindo a livre expressão dos sentimentos." (Marianne Williamson)

sábado, 9 de maio de 2009

O tempo cada dia fica mais louco. Você sai de casa pra ir à praia e volta correndo embaixo da toalha, rezando pro vento não a carregar junto. Há semanas que meu quarto está sem cortina, e eu conto nos dedos os dias que amanheceram nublados. Pelo contrário, cada manhã de sol linda de meu 'bom dia' esses tempos... mas a chuva não dá trégua: demora, mas sempre aparece.
É o clima de inverno mais estranho que eu já vi, ou ao menos que eu já me lembre.

Posso adorar o clima de chuva, mas tem se tornado assustador a maneira como a água tem se revoltado. Sorte a minha que a garagem fica no playground, porque nos edifícios da redondeza nem mesmo os carros guardados têm escapado.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Engraçado, dessa vez eu não tive receios. Seria assim, e eu não me via/vejo sendo diferente. Basta desacelerar e a felicidade te encontra, num piscar de olhos, num abrir de girassóis... :)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Tribunal do Júri, 06 de Maio de 2009

Felizes as palavras de Carnelutti ao descrever um processo penal; ontem, presenciei um de perto, até o fim. Não sei se o cansaço advém dos atos intermináveis naquele plenário, ou dos fatos repetidos inúmeras vezes, sob óticas tão diversas.
Até que ponto se alcança uma verdade? Se eu mesma acredito que nem a minha verdade sou capaz de atingir, dirá outro alguém conseguir atingi-la. No entanto, deparei-me com essa incessante busca, desde o momento em que ali me dispus. 
Não era eu a ré. Mas quem garante até quando?

Resumidamente o litígio residia em um homício doloso, ou seja, em uma morte produto da intenção de matar. O local, uma lanhouse, ou uma residência, como frisava a parte da vítima: ambiente fechado onde apenas duas pessoas sabem o que aconteceu. Uma se encontrava lá, sendo julgada; a outra, já passou pelo julgamento divino, ou está passando. Mas creio eu que apenas a justiça terrena consiga protelar tanto o futuro de seus acusados. Isso se deu a dois anos.

Eu, que não me recordo bem o que almoçei na segunda-feira, imagine então se me recordaria do que comi há dois anos exatos: 7 de maio de 2008. O máximo que me lembro dessa data é que se parabeniza uma grande amiga, o que só não caiu no esquecimento pela sua feliz repetição todos os anos - repetição esta que espero conviver durante longa data.

Pois bem: testemunhas, acusado, ministério público. Para este, confesso, não é o primeiro nem o ultimo fato a ser vivenciado procrastinadamente em busca de uma solução. Já para o réu, era o único, ao menos no que tange a um homicídio - não entrarei no fato de processos paralelos.

Quatro testemunhas foram ouvidas;  para mim, quatro fatos aconteceram. Embora todos essencialmente caissem no mesmo litígio, a emoção, a descrição, os detalhes, a ênfase, tudo se modificara. Diante deles, deparei-me em profundas dúvidas. Nada ficou claro, no fim das contas.

Um homem morreu, deixando um herdeiro e uma viúva, juntamente com familiares indignados querendo uma justiça que se refletia na maxima pena que o acusado pudesse receber. Mas quem era o homem? Como ele vivia? O que fizera para atingir seu desafeto? Por que havia um desafeto?

Parei por aqui. As reflexões são muitas cuja conclusão não excede um único ponto: nunca serei apta a dizer o que é justiça, ou quem está diante dela. É o que deixo nas mãos de Deus.
Nas minhas, porém, cabe o mister de montar alguns detalhes do quebra cabeça; a interpretação deles, contudo, será da sorte de quem por este desafio ouse passar.

Eu me recuso.

Terá continuidade, cansei de pensar nisso por hoje.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Eu, uma coisa floreada.

Interessante: conceituando o que seria um documento no meio jurídico, é uma coisa que, por força da atividade humana, seja capaz de representar um fato por meio de símbolos. Linhas a frente do livro de processo civil e me deparo com um individuo - também chamado de autor - que considera, no entanto, as singelas exceções: "o documento poderá ser uma pessoa, como ocorre com aquele que possui tatuagens que eventualmente demonstrem a ocorrência de um fato". Segue-se, então, o exemplo de um filme da década de 50, onde uma mulher cujo peito era tatuado com uma flor foi a prova de adultério de um motorista de caminhão obcecado por flores, que também tinha o peito tatuado da mesma forma.
Seria eu tambem uma prova de adultério, ou por ser nas costas minha flor tonar-se-ia contraditória? Já não basta as pessoas serem minimizadas a miseráveis, mas daí ser comparado a coisa é demais!

Belo raciocínio, caro mestre; mas agradeço mais uma vez por minha área de atuação não ser uma regra absoluta. 

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Manual de instrução

A graça de brincar com um quebra-cabeça é a incerteza do sucesso, o erro das jogadas e o anseio pela completude. Ora, se o recebestes logo preenchido, contemplar-lo-ia por apenas alguns instantes, para logo considerado-lo uma diversão antiga; mas sinta a falta de uma só peça, daquelas que se localizam ao centro e roubam um de seus detalhes essenciais. Verás, com isso, um misto de sentimentos inexplicáveis, que uma só parte ausente de quebra-cabeça proporciona. A quem te presenteou, recomendo o segredo: se quiseres que este nunca caia ao fundo da gaveta, guarde-a com afinco; do contrário, contente-se com minutos de contemplação e a eternidade do esquecimento.

Eis o que chamo de figuras de linguagem.


Annie Jolie.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Sem chaves

Entre sem bater, porém despercebido. Não tenha pressa, ande devagar, seja paciente, observe. Olhe tudo ao seu redor, mas não troque os móveis de lugar. Preste atenção nos detalhes, nas cores, no cheiro... ouça com cautela, sem tocar nas paredes. Observe todos os cômodos, abra qualquer uma das portas: só não tente pegar as chaves; eu ainda não achei.
(J. Acc.)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Plena quarta-feira de verão, as águas de março deram uma trégua e o dia amanheceu -continuando - lindo. Findo o dia e conversas rotineiras me fazem derrubar a ficha:
- Oi, Jujú!
- Guaarás! :)
- Vê só, ainda não consegui as informações, mas a moça de não-sei-o-nome-da-empresa ficou de me enviar os preços direitinhos das pousadas, ok? E você, me conta algo de bom ou novo?

...

- Conto! Estou feliz hoje.
-Ah, é? Nossa, que novidade...
- Realmente não é essa: apenas descobri que não preciso de ninguém pra conseguir.


Seja feliz você também, viva HOJE.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

De Porto Alegre, 18 de Julho de 2007, Para a saudade de casa.

Passaram-se dez dias e eu não vejo a hora de abraçar minha mãe de novo. Esse tempo aqui no Sul foi bom, mas não há nada melhor que voltar pra casa. Parece que se passou uma eternidade e eu me pergunto se tudo lá vai está exatamente como eu deixei. Só espero que ninguém tenha feito o favor de arrumar meu quarto... Afinal, depois que isso acontece, ele sempre fica pior do que tava antes: nunca encontro nada!
O vôo sai daqui a uma hora e meia senão houver atraso. Eu e meus irmãos estamos terminando de jantar para irmos pro aeroporto. Em 40 minutos chegamos tranquilos.
Agora que peguei a prática não passo férias embaixo daquele céu mais nunca: preciso de cores bonitas pelo menos em alguma época do ano. Já cansei de pedir ao papai para mudar.. Uma cidade litorânea me cairia bem melhor. Eu saberia diferenciar céu, nuvem e sol: ter isso todos os dias do ano parece sonho!
Chegamos no aeroporto em cima da hora. Havia um rapaz na porta perguntando quem iria com destino a São Paulo, o embarque era imediato! Fomos os últimos a entrar no avião: que sorte!
Ainda não está chegando... A essa hora não tinha vôo direto, ficaremos por meia hora em Salvador, esperando o outro avião.
Bem que podia haver pouca gente: ver o chão ocupado com milhares de pessoas realmente não me agrada. Ao menos chegaremos a tempo do lanche com a mamãe... Nós não aguentavamos de saudade!
É o nosso!!! Estamos indo pra casa, até que enfim!
“Senhores passageiros, dentro de instantes pousaremos no aeroporto de Congonhas...”
“Tripulação, pouso permitido. Obrigado pela preferência e tenham uma boa noite!”
Hora de acordar o João, quanto sono em uma pessoa só... João! O avião já vai pousar, acorda!! “Não gosto de pousos, Luís..” Já eu, era o que eu mais gostava! Estar no chão era a única sensação em toda a viagem que me dava a certeza de vida, de que tudo tinha dado certo, como sempre.

Escrito em 19.07.2007, Brasília.
Por Annie Jolie.






"O avião da TAM com 186 pessoas a bordo derrapou na pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, atravessou a avenida Washington Luiz e bateu em um prédio da TAM Express. O Airbus A320, vôo JJ 3054, partiu de Porto Alegre, às 17h16 da terça-feira e chegou a São Paulo às 18h45. O acidente é o maior da aviação no País." (18.07.2007)

Lição de casa, 01.08.2007

Singular é a palavra que hoje descreve a conseqüência da nossa conversa de ontem. Durante todo o tempo em que eu estive aí, era você quem me protegia, demonstrando num abraço que tudo ia dar certo, tentando ao máximo fazer com que aquela agonia que você não sabia exatamente qual passasse e que logo viesse um sorrisão daqueles. Ontem, era você quem precisava dele. E eu até subiria na cama, só pra ficar da sua altura e te abraçar mais forte, pra te mostrar que tudo acontece do jeito certo, na hora certa, como tem que ser e pronto.
Quando se faz tudo o que poderia ser feito, não há nada além da paciência que possa ajudar, no entanto, a crença naquilo que se deseja é essencial. Eu acredito que todos nós somos influenciados por energias, sejam elas boas ou ruins, que emanam de cada um de formas diferentes: uns convivem o mínimo possível e adquirem sem explicação uma afinidade semelhante à convivência de anos, enquanto, algumas vezes, aqueles que temos desde sempre nunca conseguiram chegar nem perto disso. Acontece, e acontece a todo tempo.
Nesses casos, não existem culpados, já que um e outro são regidos pelas atitudes que consideram coerentes; somente aqueles outros que vêem com olhos à margem conseguem enxergar além do que se pode ver: mas por terem as mãos atadas, nada podem modificar.
Se tudo ainda continua do jeito errado é porque vocês ainda precisam passar por isso, mas fique atento aos sinais, se os mesmos passam despercebidos, fique certo de que essa situação ainda permanecerá durante longo tempo: nenhum professor deixa sala de aula sem que seu aluno tenha aprendido.

Annie Jolie.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Diária Lispector

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.Como eles admiravam estarem juntos!Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector