quarta-feira, 21 de maio de 2008

A falta e o fundo do abismo. (parte 3)

Pela primeira vez, descartei as dúvidas que sempre moviam minhas ações. Desta vez, no entanto, havia o além de mim mesma: eu sentia a responsabilidade de ser motivo da felicidade, ou da falta dela, de alguém.
Era segunda. Mas se fosse sexta, não faria diferença: tudo continua igual.
Uma falta: de alguém, de um carinho, de alguma-coisa que eu não sabia explicar.
Uma falta de mim mesma. Fazia tempo que eu me passava despercebida, salvo as horas frente ao espelho onde a imagem continuava a mesma. Quem entenderia?
Eu havia caído no abismo na mesmisse e não sabia como sairia dele, ou quem poderia me tirar de lá. Incansavelmente, tentei dia por dia escalar as enormes paredes alagadiças que me rodeava, mas a gravidade me trapaceava sempre ao alcance do topo.
O otimismo nunca me faltou, apesar de toda a insegurança guardada no fundo da gaveta, eu sempre tive a certeza de que viria o melhor (até hoje é assim). Desisti, então, por um tempo.
Já havia perdido a noção das horas e dos dias em que ali estava. Presa a laços invisíveis e desconexos, seguindo as pisadas que encontrava no caminho, percebi que eu estava em segundo plano na minha própria história. A protagonista decorava os passos dos figurantes, enquanto estes brigavam entre si para ver quem ganharia o papel principal. Sorte: percebi a tempo.

terça-feira, 20 de maio de 2008

A certeza desnecessária. (parte 2)

A minha vida tinha uma rotina, uma estabilidade e, de certa forma, uma realização. Mas onde eu estava na minha própria vida? A intriga veio no instante depois, quando percebi que eu não fazia parte daquelas lembranças que foram deixadas. Não me reconheci em nenhum dos dias que haviam passado. Eu estava lá, mas eu apenas existia.
Todo o tempo eu sobrevivi durante a noite, quando eu mesma desenhava os meus passos, sem ninguém olhando por perto: pulando entre as nuvens, contando as estrelas e escondendo-me entre as cartas sem destinatários.
Eu adormeci durante três longos dias, quando finalmente me dei conta: era segunda-feira e eu acabara de voltar pra casa. Trazia comigo, porém, não a tristeza do início de semana, e sim a duvida do que teriam sido aqueles três últimos dias. A semana pareceu incompleta, e depois de sexta, ao invés do sábado, estava a segunda. Um castigo talvez pelas desobediências acumuladas: um dia ele teria de chegar, não?
Entrei em casa como se estivesse voltando da faculdade, e fui direto para o quarto. Esperta que sou, mostrei-me a felicidade em pessoa: minha mãe tão ansiosa não precisava ter de cara uma osmose de tristeza. Rodeada pelos personagens de minha vida, pensei em quem realmente era cada um. Cada um atrai para si o que acredita ser verdade, mas nem tudo que se acredita ser, de fato o é. Talvez essa fosse a diferença. Para mim, havia perdido o sentido, mas eu precisava de certezas.

(...) continua.

O novo dia e a velha memória. (parte 1)

Acordei sem lembrar de ontem. Revirando na cama, sem querer abrir os olhos, tentei prolongar aquele refúgio por mais alguns minutos. Foi em vão: era hora de acordar mesmo. O relógio marcava meio-dia, e quando me dei conta de que era de fato outro dia quase desisti.
Talvez se ainda fosse ontem eu pudesse trocar algumas coisas de lugar, ou caminhar pelo outro lado da rua, ao menos eu não teria lembranças. A certeza de levantar da cama sabendo de que agora são as consequências, e não as causas, pesa qualquer inicio (ou meio) de manhã. Mas eu era forte, ao menos em parte.
Levantei-me. Uma ducha bem gelada me faria melhor: renovaria as energias, como eu sempre digo. E renovou mesmo, até o diabo perceber o pensamento vazio e começar a degustar sua refeição. Foi aí que tudo se reproduziu, denovo, com os mais minuciosos detalhes. O que estaria fora do lugar?
(...) continua.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Maio/2008

Sob um céu de estrelas
escondidas nas sombras das nuvens,
tentamos caminhar despercebidos
pela voz dos olhos que nunca se cala.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

02.05.2008

Voltei, mas já sem perguntas. Talvez tenham sido as lentes dos óculos que foram trocadas, ou então o corte do cabelo que tirou da visão as pontas da franja, nem curta, nem grande. Por certo, afirmo que dessa vez quem escreveu, preencheu toda a irregularidade das linhas pela sabedoria, e, ali mesmo, na minha interpretação, tudo se foi dito.