quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

De Porto Alegre, 18 de Julho de 2007, Para a saudade de casa.

Passaram-se dez dias e eu não vejo a hora de abraçar minha mãe de novo. Esse tempo aqui no Sul foi bom, mas não há nada melhor que voltar pra casa. Parece que se passou uma eternidade e eu me pergunto se tudo lá vai está exatamente como eu deixei. Só espero que ninguém tenha feito o favor de arrumar meu quarto... Afinal, depois que isso acontece, ele sempre fica pior do que tava antes: nunca encontro nada!
O vôo sai daqui a uma hora e meia senão houver atraso. Eu e meus irmãos estamos terminando de jantar para irmos pro aeroporto. Em 40 minutos chegamos tranquilos.
Agora que peguei a prática não passo férias embaixo daquele céu mais nunca: preciso de cores bonitas pelo menos em alguma época do ano. Já cansei de pedir ao papai para mudar.. Uma cidade litorânea me cairia bem melhor. Eu saberia diferenciar céu, nuvem e sol: ter isso todos os dias do ano parece sonho!
Chegamos no aeroporto em cima da hora. Havia um rapaz na porta perguntando quem iria com destino a São Paulo, o embarque era imediato! Fomos os últimos a entrar no avião: que sorte!
Ainda não está chegando... A essa hora não tinha vôo direto, ficaremos por meia hora em Salvador, esperando o outro avião.
Bem que podia haver pouca gente: ver o chão ocupado com milhares de pessoas realmente não me agrada. Ao menos chegaremos a tempo do lanche com a mamãe... Nós não aguentavamos de saudade!
É o nosso!!! Estamos indo pra casa, até que enfim!
“Senhores passageiros, dentro de instantes pousaremos no aeroporto de Congonhas...”
“Tripulação, pouso permitido. Obrigado pela preferência e tenham uma boa noite!”
Hora de acordar o João, quanto sono em uma pessoa só... João! O avião já vai pousar, acorda!! “Não gosto de pousos, Luís..” Já eu, era o que eu mais gostava! Estar no chão era a única sensação em toda a viagem que me dava a certeza de vida, de que tudo tinha dado certo, como sempre.

Escrito em 19.07.2007, Brasília.
Por Annie Jolie.






"O avião da TAM com 186 pessoas a bordo derrapou na pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, atravessou a avenida Washington Luiz e bateu em um prédio da TAM Express. O Airbus A320, vôo JJ 3054, partiu de Porto Alegre, às 17h16 da terça-feira e chegou a São Paulo às 18h45. O acidente é o maior da aviação no País." (18.07.2007)

Lição de casa, 01.08.2007

Singular é a palavra que hoje descreve a conseqüência da nossa conversa de ontem. Durante todo o tempo em que eu estive aí, era você quem me protegia, demonstrando num abraço que tudo ia dar certo, tentando ao máximo fazer com que aquela agonia que você não sabia exatamente qual passasse e que logo viesse um sorrisão daqueles. Ontem, era você quem precisava dele. E eu até subiria na cama, só pra ficar da sua altura e te abraçar mais forte, pra te mostrar que tudo acontece do jeito certo, na hora certa, como tem que ser e pronto.
Quando se faz tudo o que poderia ser feito, não há nada além da paciência que possa ajudar, no entanto, a crença naquilo que se deseja é essencial. Eu acredito que todos nós somos influenciados por energias, sejam elas boas ou ruins, que emanam de cada um de formas diferentes: uns convivem o mínimo possível e adquirem sem explicação uma afinidade semelhante à convivência de anos, enquanto, algumas vezes, aqueles que temos desde sempre nunca conseguiram chegar nem perto disso. Acontece, e acontece a todo tempo.
Nesses casos, não existem culpados, já que um e outro são regidos pelas atitudes que consideram coerentes; somente aqueles outros que vêem com olhos à margem conseguem enxergar além do que se pode ver: mas por terem as mãos atadas, nada podem modificar.
Se tudo ainda continua do jeito errado é porque vocês ainda precisam passar por isso, mas fique atento aos sinais, se os mesmos passam despercebidos, fique certo de que essa situação ainda permanecerá durante longo tempo: nenhum professor deixa sala de aula sem que seu aluno tenha aprendido.

Annie Jolie.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Diária Lispector

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.Como eles admiravam estarem juntos!Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector