segunda-feira, 28 de maio de 2007

Conflito.



Agora somos apenas nós duas: eu e eu mesma. Subtraindo o tempo em que não mais nos encontramos daquele que eu escolhi para outros planos/pessoas, restou-me um belo saldo negativo. É, em dívida comigo mesma: antes fosse qualquer outro alguém sem tanta importância.
Procuro buscar na essência de mim os meus controles e limites: os dois têm de funcionar juntos, do contrário, não funciona. Sempre disse que esse jogo de esconde ali e acha aqui nunca dava certo, mas os meus passos insistiam em ser maiores que os meus pés. “Só cai quem está em pé”, ouvi dizer. Vendo por esse lado, nunca percebi tamanha coerência.
E agora, querida eu, fala mais alto, que meus ouvidos parecem as vezes aumentar demais a música. Aprendi desde pequena, que para se ouvir ao redor é preciso cantarolar sempre, mas numa freqüência alta o suficiente apenas para não cair na monotonia.
Minhas cirandas me levam pro mesmo lugar onde parei e nunca me deixaram sair: no quintal florido habitado por filhotes caninos, nos sonhos onde eu nunca conseguia correr, mesmo que o perigo estivesse ao lado.
Compreensível os dias sempre me levarem de volta aos meus dias de criança: o meu espírito estará vivo em todos os tempos, a todos os momentos, mas as minhas atitudes são dignas de reflexos. Reflexos dos meus 18 anos.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Daqui pra lá, de lá pra cá.



Quem constantemente pisa em ovos, procura sua solidez nas reações alheias, como se a conseqüência disso ou daquilo não os atingisse. Pelo menos não diretamente.
Sempre foi assim, e eu enxerguei por longos momentos essas experiências de perto: garanto, nunca na minha vida desejaria ser uma ponte. Se olharmos bem detalhadamente veremos que ela não tem utilidade alguma, pois o que importa realmente é onde se está e onde se quer ir. Eu nunca fui um meio termo tampouco uma passagem de tratores e afins. Pobres pontes frágeis: sem essência, sem margens e sem rios.
Rios dos famosos sonhos, separa-me de todas as pontes existentes no mundo, e deixa-me construir cada uma delas com os ramos que a vida conservará. Dispenso os engenheiros e todos os cálculos, porque eles possuem erros irreparáveis. Eu, no entanto, nunca me assegurei ser tão certa... Mas errar por mim mesma é bem mais gratificante que ser atingida por erros de outros não-eus.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Passatempo.

Tempo passa. Passa tempo.
Foi ontem que nós nos conhecemos. Não, não. Não ontem. Mas um dia atrás que, consideravelmente, não é hoje nem tão longe pra se considerar um passado. Apesar de ter na mente que passado é tudo aquilo que já aconteceu, tenho uma percepção de tempos remotos que se perderam no tempo. Nós não nos perdemos, não ainda, enquanto escrevo.
Tempo passa. Passa tempo.
Os dias castigam, assim como a falta de água castiga todas as flores que esperam brotar na primavera que se aproxima. Elas guardam, durante meses, todo o sentimento que as rege, toda a energia, toda a vida! Mas elas, unicamente a sós, não podem fazer viver. É como um par: um não existe sozinho. A água por si só pode até existir, porém, é a necessidade de sobrevivência que a faz pura.
Tempo passa. Passa tempo.
Já é outono e somos quase passado. Falta ar, água e luz. Nesse túnel em que me encontro não alcanço as delimitações, tampouco o seu trajeto. Seja em curvas ou em linha reta, apenas ando: um pé a frente do outro. Pela demora às vezes me pergunto se não os tenho confundido deixando um atrás do outro, sem perceber. Nunca fui muito boa em ritmos: sorte de quem me honrasse a dança e não a terminasse com um belo pisão no pé.
Tempo passa. Passa tempo.
É outono denovo, se ainda não for a primavera. Sabe, também nunca foi boa em contagens: os calendários sempre me pareceram cruéis demais, ao ponto de me fazerem crer que hoje é menos um dia. Amanhã já é hoje e outro dia menos todos que ainda virão. E se eu fosse parar pra contar, realmente, não me restaria um dia sequer.
Tempo passa, Passa tempo.
Preciso de um espelho, de reflexos. Não conheço mais a mim mesma. Não sei o quanto envelheci, e qual será o olhar que encontrarei na essência do que sou. Não sei mais que sou e, ainda, se sou. Quando perde-se a referência é quase impossível dizer o que se resta. Se resta.
Tempo passa. Passa tempo.
Esperaria o próximo outono: pouparia folhas. Mas acho que não chegarei tão longe. Estamos no inverno, e o frio da saudade me faz perder as esperanças. Esperança de que?
Tempo passa. Passa tempo.
Tive esperanças de um futuro. Ilusão? O futuro é tão incerto quanto eu mesma, e agora me vejo como enxergo a quem ao meu redor vive: fantoches agindo sob as minhas ações. Sim, pois, na esperança de conseguir fazer de mim isso ou aquilo, se age dessa ou daquela forma. No entanto, não altera.
Na incessante busca pelo meu eu, os outros nem sequer conseguem compreender o eu próprio. Agiriam, ainda assim, da mesma forma alienada caso conseguissem enxergar pelo lado de fora?
Tempo passa. Passa tempo.
Tempo passa. Passa o meu tempo.
Tempo passa. Passatempo.
Tempo passa. Meu passatempo.
Meu passatempo fazei passar todo o tempo que ainda não passou: anseio por um tempo que não passe. Pelo meu tempo. Pelo nosso tempo, que nunca é tarde o suficiente para deixar de existir.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Eu mesma: a evasão.

Poderia trancar-me no quarto e diversas horas passar viajando dentre os mundos fantásticos dos livros de minha cabeceira. Entre fadas, guerras e psicos, temo que hoje não haja espaço para mundo algum, a não ser o meu mesmo.
Eu nunca consegui distinguir em qual mundo vivo de verdade, ou ainda se vivo de verdade ou de mentira. De ilusões: seria mais propício. Acredito em tudo que vejo, e desconfio na mesma proporção. Sempre foi assim, já que o que chamam de confiança sempre guardei a sete chaves: tanto quis, que algum belo dia destranquei todas as fechaduras.
Por acaso do destino ou não, tanto temi que fiz exatamente aquilo que não faria: joguei-a ao vento como quem solta um pássaro que acabara de aprender a voar. Voou alto, tão alto que perdeu totalmente o controle. Ele caiu.
Entre mim mesma e tudo que ao meu redor existe, considero uma eterna troca: de sabores, de cheiros e de pensamentos. Sempre que tenho algo a oferecer, eis o meu papel. Quando não, busco o meu outro: aprender.
O aprendizado de cada um é regido pela capacidade de interpretação do mesmo. Uma frase pode revelar diversos sentidos que quem a falou jamais imaginara; pode originar vários desfechos, dando um rumo diferente a cada ponto de vista. Palavras são poderosas, e, dependendo de quem as use, terá êxito ou não.
Sempre tive medo das minhas próprias: elas nunca soaram tão claramente para que refletissem seu único sentido. A evasão sempre me acompanhou, deixando por quem passe na minha vida aquela eterna dúvida de que se aquilo que ouviu foi o mesmo que se foi dito. Poucos percebem.
E eu, no meu papel de mim, nunca revelei a certeza ou o engano.