quarta-feira, 21 de maio de 2008

A falta e o fundo do abismo. (parte 3)

Pela primeira vez, descartei as dúvidas que sempre moviam minhas ações. Desta vez, no entanto, havia o além de mim mesma: eu sentia a responsabilidade de ser motivo da felicidade, ou da falta dela, de alguém.
Era segunda. Mas se fosse sexta, não faria diferença: tudo continua igual.
Uma falta: de alguém, de um carinho, de alguma-coisa que eu não sabia explicar.
Uma falta de mim mesma. Fazia tempo que eu me passava despercebida, salvo as horas frente ao espelho onde a imagem continuava a mesma. Quem entenderia?
Eu havia caído no abismo na mesmisse e não sabia como sairia dele, ou quem poderia me tirar de lá. Incansavelmente, tentei dia por dia escalar as enormes paredes alagadiças que me rodeava, mas a gravidade me trapaceava sempre ao alcance do topo.
O otimismo nunca me faltou, apesar de toda a insegurança guardada no fundo da gaveta, eu sempre tive a certeza de que viria o melhor (até hoje é assim). Desisti, então, por um tempo.
Já havia perdido a noção das horas e dos dias em que ali estava. Presa a laços invisíveis e desconexos, seguindo as pisadas que encontrava no caminho, percebi que eu estava em segundo plano na minha própria história. A protagonista decorava os passos dos figurantes, enquanto estes brigavam entre si para ver quem ganharia o papel principal. Sorte: percebi a tempo.

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