segunda-feira, 25 de junho de 2007

Feche os olhos, mas mantenha-os bem abertos.

Fechei os olhos.
Apesar do abismo de toda uma escuridão, ainda assim escuto. Diria que está chovendo, não muito, mas o suficiente para nos molhar, caso estivéssemos passeando pela beira da praia. Ao fundo, há uma canção, uma melodia que instrumento nenhum é capaz de produzir.
Andávamos ao ritmo dos ventos, ao soprar forte da noite, ao frio gelado que nos fazia cair um nos braços do outro. Continuo de olhos fechados, mas meus pés ainda assim se movem: guiados pelos seus passos. Você me levaria exatamente por onde está indo, mas meu trôpego andar me faz cair em armadilhas das quais você não suspeita. O destino já te presenteia com as mais diversas carapuças, e as minhas só dizem respeito a mim mesma. Não, a nós mesmos. Mas apenas eu sou capaz de ultrapassar cada uma delas, uma a uma.
Milhares de carros passam ao nosso redor. Mesmo estando tão junto ao mar, estamos junto a estrada na mesma proporção. Na caminhada da vida é assim: em meio a sonhos e realidade caminhamos, variando sempre entre o possível e o teoricamente impossível. Minhas idéias, você sabe, nunca me fizeram desacreditar em alguma possibilidade. Tudo é possível. Por que não seria?
Meus olhos não abrem, ainda optam por observar as coisas sob outro ponto de vista, ou sob nenhum deles. Apenas barulhos, sensações, cheiros: do vento, do frio, do leite quente. A percepção individual de cada um deles me faz pôr as palavras à margem, deixando disposição apenas aos entendimentos.
Ninguém consegue explicar como se aprende. No meu lugar, eu também não gostaria de saber. Sabe, obediência nunca foi o meu forte... Não que eu infrinja todas as regras, mas eu costumo seguir apenas aquelas que realmente convergem àquilo que sou. E não me peçam para explicar essa última parte, começa a ficar obscuro quando feito sem naturalidade. Poucos percebem, já disse.
Faltou-me o ar, meus olhos se abriram. Aonde você teria ido? Era apenas eu, agora... Engraçado, quanto equilíbrio. Ainda achava que minhas mãos ainda pertenciam ao seu rumo. Mas, então.. Não era o seu rumo? Não, era o nosso. E foi assim que caminhamos; durante quanto tempo, não sei dizer. Mas tempo suficiente para não ter como explicar.
Costumo também dizer que as explicações só nos faltam nas horas em que algo realmente faz sentido. É como se fossem opostos: palavras sempre explicam a teoria, mas a prática é exclusiva de nós.
A noite estava tão escura quanto a visão que eu não tinha. Mas existia uma diferença. Ou melhor, existia a diferença: eram as estrelas. São elas que nos guiam quando os passos falham ou tropeçam. As referências de nós podem muitas vezes perder o brilho, mas as estrelas nunca nos deixam perder o rumo. Pelo menos elas tentam, e no fim das contas, deixam que nossos próprios atos reflitam a nossa vontade.
Foi noite durante um bom tempo, e quase seria noite para sempre. Fechei os olhos mais uma vez: na intenção de entender o abismo no qual me perdera, achei os sonhos que me faltavam.
Quando acordei, tinha amanhecido... Engraçado como, mesmo de dia, eu ainda continuava a sonhar. Era você.
A realidade vez ou outra me mostra que os obstáculos ainda existem, mas o outro lado de lá me mostra sempre que ainda é só o começo.
De sonhos, conquistas e perdas.
De sons, cheiros e sentidos.
De nós, de mim e de você.

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