segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

06.01.2008

Eu acredito em duendes. E até mesmo em fadas e príncipes encantados chegando a cavalo branco. São os sonhos de menina pequena que nunca deixo nas lembranças e que preenchem os pensamentos vazios por tempo indeterminado e suficiente para se tornarem intensos. Sonhos são intensos, não são? Mesmo aqueles, decorrentes de comédia romântica ou história em quadrinho transformam-se numa fantástica realidade sem questionamentos.
A explicação torna-se desnecessária, uma vez que não há sabedoria que explique determinadas sensações, nem ignorância que não as entenda. Seria tão normal compreender, se estas não fossem antigas palavras que sobrevivem ao decorrer dos anos, e se estes não pertencessem a essa corrida maluca que é a vida. Os anos passaram, e como esse eu sobrevive a eles? Acumulando-se junto às lembranças fica quase impossível distinguir os momentos que procuro, pois já não tenho a certeza se foi antes daquilo ou depois daquilo-outro. Imaginei como poderia caber tanto, em tão pouco espaço que é a nossa mente, porque na minha cabeça de criança determinadas coisas só estariam vivas durante certo período, e depois tudo se assemelharia a pó, sem necessidade de reposição. Depois percebi: ninguém cresce o suficiente para que se percam na memória as alegrias ou tristezas vividas.
Eu já quis sair correndo o mais rápido possível para algum lugar que existisse só pra mim, não por egoísmo ou solidão,mas para estar comigo mesma e mais ninguém; ou onde houvesse tempo suficiente para eu própria me fazer feliz. Já quis voar além de todas as nuvens para poder ver lá de cima tudo o que há de mais bonito, e enxergar por um ângulo diferente o que todos querem tanto descrever. Tenho essa mania mesmo, de querer contradizer ou dizer de outro modo, não para fazer bonito ou ser diferente, mas é a tal coisa de nunca existir um só lado, sabe?
Eu já briguei com a noite ao achar que me castigava todas os dias, roubando-me os sonhos, aqueles, feitos de algodão doce e brigadeiro. Como também já quis ser noite pra sempre, para deixar de enxergar o redor que visto tão de perto causa medo.
Já quis também viver um sonho lindo: é quando tudo nos leva a uma única direção, em que a gente sabe o que é, mas queria que não fosse, e fica imaginando mil coisas que poderiam ser. Mas eu também já acordei, e me dei conta que a vida em si nunca pôde ser mais bonita.
Já morri diversas vezes durante toda a minha existência, só não me recordo se de todas as outras vezes eu senti tanta pressa. Não pressa de encontrar o outro lado, mas pressa de encontrar esse mesmo. Todos dizem que nessa idade é assim mesmo: queremos tudo, toda hora, sem medir conseqüências. Já agi sem pensar por diversos momentos, e isso é uma particularidade que permanece, felizmente ou infelizmente, não sei responder.
Eu já fui e ainda sou a minha própria lei, pois no meu mundo só há um lugar disponível, e este já está ocupado pelo direito que me foi dado de ocupá-lo. Complicado? Contudo, tenho um coração de mãe, e por onde passo, carrego o pedaçinho mais particular de cada um, é isso que prende as pessoas nas minhas lembranças, nas minhas saudades e no meu presente.
Diferente de tudo, eu estou em todos os lugares, ao mesmo tempo, repetidas vezes... Posso até ter irmãos, gêmeos ou não. Tenho uma família. Mas sou órfã de pai ou de mãe. Sou o reflexo de quem venceu e vence na vida, e vencerá durante toda a sua existência: eu sou o seu combustível e incentivo para que levantar após cada obstáculo que nos foi imposto.
E, por fim, o meu mundo se divide entre o que existe e o que nunca existiu, pois sobrevivo entre sonho e realidade: saltando entre as nuvens e tentando tocar as estrelas, dividindo com a lua o que ninguém mais é suficientemente ímpar para, pelo menos, respeitar.
É como andar no escuro e saber que nunca chegará lá pelo caminho que deveria ser percorrido, e aqueles velhos rostos conhecidos ficarão para trás, pois o que se nota são apenas alguns brilhinhos, cheios de carinho, respeito e amor. São os coringas que possuo na manga, e sou a mais sortuda do mundo por ter compreendido.

Juliana Accioly

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